Se eu pudesse voltar no tempo...
Ah, se eu pudesse voltar no tempo… Essa expressão é a lembrança mais marcante que tenho dos últimos dias de vida de meu amigo Juliano (nome fictício). Vítima do vírus HIV, em fase terminal, Juliano estava ali em seu leito de morte, cadavérico, quase que irreconhecível arrependido e revoltado, consigo mesmo, com relação às péssimas decisões tomadas no passado que o levaram àquele estado horrível.
Pensando que aquela fosse apenas mais uma relação amorosa extraconjugal, meu amigo partiu para sua noite de “prazeres” com uma garota de seu ciclo de relacionamento no trabalho, durante uma de suas viagens rotineiras.
Débora (nome também fictício), segundo me descreveu Juliano, era uma mulher atraente e “irresistível”, ao mesmo tempo, discreta e de aparência recatada. Era aparentemente o modelo de mulher “ideal” para aquele tipo de relação amorosa – algo do tipo sigilo absoluto. Para ele, e provavelmente, para alguns outros, Débora era uma garota “acima de qualquer suspeita”. Porém, talvez sem saber da letalidade dessas relações, ela brincava com sua sensualidade e se divertia com “seus corriqueiros casos amorosos”.
Eu havia conhecido Juliano sete anos antes. Ele, juntamente com sua jovem e bonita esposa, veio fazer um curso de treinamento missionário em uma de nossas bases de desenvolvimento comunitário. Eles eram jovens e dinâmicos, ambos estavam em plena forma e eram cheios de vida. Juliano era possuidor de uma presença marcante, que combinava com sua boa aparência, igualmente diferenciada. Era um jovem cheio de sonhos. Tinha muito potencial e, aparentemente, queria usá-los para o Reino de Deus. Porém, após seu curso de treinamento, ele saiu em busca de sustento e estabilidade financeira, a contragosto de sua esposa, e também de nossa equipe, e “sumiu” com sua família por exatos sete anos.
No dia dois de Março de 1996, no mesmo dia do acidente aéreo que levou à morte os integrantes da banda Mamonas Assassinas, quando o avião em que estavam chocou-se contra a Serra da Cantareira, em São Paulo, eu estava tomando um vôo no mesmo aeroporto onde, minutos antes, o avião da banda havia arremetido, culminando no acidente. Eu viajava com destino a Cuiabá. Na manhã daquele dia, depois de sete anos sem notícias, havia recebido um telefonema do Juliano relatando sua triste história e se despedindo de mim e da vida. Fato esse que provocou minha mudança de agenda, levando-me a priorizar a viagem para ver meu amigo nos seus instantes finais de sua vida. E, quem sabe, poder fazer com e por ele uma oração em fé e testemunhar um milagre. Quem sabe? Eu pensava sério em ver um milagre de cura na vida dele.
Passei um dia inteiro em sua companhia e na de sua família. Juliano agora tinha uma linda filha, que, pela graça de Deus, não era soropositiva. Porém, sua esposa Dora (nome fictício), não teve a mesma sorte.
Contamos causos, relembramos fatos, fomos à igreja juntos (ele havia insistido com seu pastor que gostaria de me ouvir pregar), e etc. Depois do culto, ele reuniu sua família e, na minha presença, balbuciou a “pérola”: “— Ah, se eu pudesse voltar no tempo…” Em seguida, ele descreveu uma série de coisas que, se tivesse outra chance, faria diferente. Dentre elas: gostaria de não ter tido os casos extraconjugais, dos quais se arrependia amargamente; e também nunca teria saído da obra missionária em busca de segurança e estabilidade para si e para sua família. Ele sentia como se tivesse traído a confiança de Deus até mesmo nessa área.
Juliano, ao contrário do que eu cria e esperava, nunca se recuperou de sua enfermidade e faleceu no dia 18 daquele mesmo mês, devido a uma “insuficiência respiratória”.
Hoje, ao ler rapidamente uma enquete com esse tema em um site de relacionamentos, lembrei-me desse trágico episódio, e foi impossível não pensar sobre a pergunta e repetí-la, primeiramente, a mim mesmo. “Se eu pudesse voltar no tempo”, o que (ou quais fatos) eu faria acontecer de uma forma diferente?
Pude enumerar uma série deles. Porém, não quero ficar sozinho nisso. Gostaria de estender essa reflexão a você também. E você? Se você pudesse voltar no tempo, o que faria de diferente?
Acontece que a gente não pode voltar. O que passou, passou!
Porém, devemos ter em mente que os fatos dos quais nos arrependeremos amanhã estão batendo à nossa porta, hoje. Portanto, a grosso modo, se não podemos mudar os fatos do passado, poderemos, contudo, melhorar a nossa condição no futuro, escolhendo e vivendo bons princípios, hoje. Nossas escolhas do presente são a plataforma para a nossa realização e felicidade de amanhã.
Portanto, de agora em diante, eu e você não mais precisaremos fazer uso dessa pergunta, ”se eu pudesse”, pois, à luz dessa reflexão, temos a consciência de que podemos mudar o passado de amanhã, vivendo o presente com escolhas retas, justas, puras e verdadeiras.
Um abraço e um 2010 super abençoado a todos!
Wellington Oliveira
Presidente de Jocum Brasil
Fonte: www.jocum.org.br