LEALDADE

30/08/2012 23:16

 

        Recebi uma ministração esses dias que preciso compartilhar com você. Peço ao Senhor que Ele revele ao seu coração o que revelou ao meu, e que você seja abençoado mais ainda do que eu fui.

        Estamos vivendo um tempo de grande crescimento de evangélicos no Brasil. As pesquisas mostram que nos dez últimos anos a população evangélica cresceu muito em relação às outras religiões, e outras têm diminuído, como, por exemplo, o catolicismo.

        Mas com essa expansão do evangelho, observamos que ainda existe uma grande quantidade de pessoas que não entendem, ou não querem praticar o evangelho em sua forma mais essencial: a renúncia.

        Praticar o evangelho (Tg. 1:22-23) é abrir mão de uma vida pessoal para viver uma vida espiritual. É abandonar todas as práticas desejadas pela carne (pecado), e abraçar tudo o que é oferecido pelo Espírito Santo. (Mt. 10:39). É cruz.

        Vemos hoje igrejas cheias de pessoas, de famílias, de membros, mas tenho acreditado que Cristo precisa muito mais do que membros em nossas igrejas; precisa de filhos. É uma necessidade real.

        As diferenças entre membresia e filhos são várias.

        Primeiramente, um filho não troca de casa. Pode, na verdade, até se mudar para outro local, mas onde quer que esteja, vai sempre continuar sendo filho.

        Filho é gerado. Há dores de parto na concepção dele. Muitos líderes sabem exatamente o que é ter “dor de parto” por alguém. Sabem como é ter noites em claro aconselhando, visitando, orando por alguém, gerando o caráter de Cristo nessa pessoa, até que ela se torne um filho.

        Um filho aprende a não quebrar a aliança. Pode até se aventurar, como no caso do filho pródigo, mas sempre que precisar, vai se lembrar de casa, do pai, e principalmente dos ensinamentos que teve.

        Outra diferença está nos falatórios. Existem em nossa nação inúmeros pastores que realmente zelam pelas ovelhas, líderes que buscam a santificação, a direção de Deus, e principalmente ter uma vida exemplar para com o Senhor e diante de sua igreja. Algumas decisões ou direções destes líderes são baseadas em respostas do Senhor depois de muito tempo de oração, mas nem sempre estas respostas agradam a todos. Quando temos um líder que tem intimidade com Deus, precisamos acreditar que o Senhor tem dado as direções corretas a ele, mesmo se no momento não as entendermos.

        Facilmente você verá membros reclamando em grupinhos sobre alguma decisão ou escolha do pastor, sem chegar até ele para conversarem sobre o assunto. Muitos membros podem se levantar contra o pastor e existem vários casos de o pastor até ser retirado da igreja. É muito fácil o membro não ter aliança com o líder (que a Bíblia o chama de “anjo da igreja”), e falar mal dele por qualquer decisão ou mudança que não tenha gostado, gerando fofoca. Na verdade, a fofoca é exatamente a ação do diabo alcançando espaço para destruir um ministério. De todos os problemas que uma igreja pode ter, a fofoca é uma árvore que precisa ser cortada imediatamente pela raiz, antes que cresça e dê frutos.

        Não se consegue crescer e avançar com pessoas desleais.

        Um membro pode até ser fiel nos dízimos, nas ofertas, na presença dos cultos, mas isso não é sinônimo de lealdade. O filho que aprende ser fiel e leal, é aquele que trabalha e faz tudo acontecer dentro de um ministério. Ele faz além do que se pede e se espera.

        Por exemplo: o pastor liga para um membro e diz: “Por favor, vá até a igreja porque acho que esqueci a janela aberta”. Ele vai, olha a janela fechada, volta e liga de volta para o pastor: “Pastor, fui e a janela estava fechada”. Isso é o que um membro comum faz.

        Porém, se o pastor liga para o filho leal e lhe pede a mesma coisa, este retornará dizendo: “Pastor, fui até a igreja e a janela estava fechada, olhei se as torneiras estavam vazando, conferi as fechaduras, as luzes, e está tudo ok”. O filho leal sempre faz além do que se pede.

        Outra característica do filho leal é que ele nunca irá deixar com que o ministério seja um fardo pesado para o pastor.

        Vemos muitos pastores doando todos os seus esforços em reuniões, visitas, orações por enfermos, mais visitas, e tantas outras coisas que poderiam ser compartilhadas com outros líderes.

        Jetro, sogro de Moisés, viu que este julgava o povo desde cedo até o final do dia, e que eram muitas situações para ele resolver sozinho, e o aconselhou que levantasse líderes que fossem justos para ajudá-lo nessa tarefa, pois dessa forma todos seriam abençoados, Moisés, como líder, e o povo, por estar sendo ajudado (Ex. 18:1-27).

        Hoje se faz necessário ajudadores no ministério, auxiliadores que temam ao Senhor, O amem, sejam leais ao Senhor e lutem pelo Reino de Deus, para que o crescimento não seja somente em números e percentuais, mas em caráter, hombridade, fé, amor, e salvação.

        Jesus sabia da necessidade de se formar discípulos e filhos, pois a Bíblia nos mostra que Ele nunca estava só. Quando começou a operar milagres, escolheu seus discípulos, que estariam com ele até o momento da prisão, e mesmo assim, alguns continuaram por perto mesmo diante da crucificação.

        A lealdade dos discípulos foi reconhecida pelo Senhor:

     Lucas 22:28-30 diz:

“Mas vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas provações; e assim como meu Pai me conferiu domínio, eu vo-lo confiro a vós; para que comais e bebais à minha mesa no meu reino, e vos senteis sobre tronos, julgando as doze tribos de Israel.”

 

        Esse texto acima nos revela algumas verdades:

·         Toda lealdade produz honra;

·         A honra acompanha a pessoa que é leal;

·         O ministério frutífero é resultado de uma vida de lealdade;

·         A unção que você quer, é a unção que você honra.

 

Também Abraão, o pai da fé, honrou a seu filho Isaque, que foi prometido pelo Senhor, e o qual ele tanto amava:

Gn. 25:5-6

“Abraão, porém, deu tudo quanto possuía a Isaque; no entanto aos filhos das concubinas que Abraão tinha, deu ele dádivas; e, ainda em vida, os separou de seu filho Isaque, enviando-os ao Oriente, para a terra oriental.”

 

Fato claro nesse texto que é a honra maior foi para o filho da promessa, Isaque.

Abraão deu ao filho que teve com sua esposa Sara toda a sua herança, bens, honra e autoridade, porém, aos outros filhos, que teve com suas concubinas, deu apenas presentes.

        Não se conquista nada grande com atitudes pequenas.

        Existe a história de um homem na Bíblia que retrata muito bem o que é deslealdade. Vamos conhecer alguns episódios da vida de Joabe, comandante do exército de Davi. Contarei a história citando aqui alguns textos bíblicos para você ler e compreendermos melhor.

        Joabe era filho de Zerúia, meia irmã de Davi, que reinava em Judá (2Sm. 2:18), e como já citei, comandante de seu exército.

        Outro comandante dessa história é Abner, comandante do exército do rei Saul, que reinava em Israel. Nesse período, os reinos ainda eram divididos.

        Com Saul já derrotado e Davi aclamado rei, Abner toma a Isbosete, filho de Saul, e o constitui rei sobre Israel, enquanto Davi reinava em Judá. (2 Sm. 2:8-11).

        Abner fez guerra contra Joabe, tentando assim tomar posse de Judá, porém o exército de Davi, liderado por Joabe, os venceu. (2 Sm. 2:12-17).

        Naquele campo de batalha, além de Joabe, estavam também seus outros dois irmãos: Abisai e Asael. A Bíblia mostra Asael, que era ligeiro, perseguindo Abner. Abner manda com que ele o pare de perseguir, mas este não obedece, e Abner acaba matando Asael, irmão de Joabe. (2 Sm. 2:18-30). Com a morte do irmão, Joabe promete vingança contra Abner.

        Passado algum tempo deste acontecimento, por uma repreensão de Isbosete, rei de Israel e filho de Saul, Abner se revolta e procura a Davi, rei de Judá, e faz com ele uma aliança. (2 Sm. 3:6-13).

        Aqui vemos a ação de um desleal. Abner era fiel ao reino de Saul, até onde o satisfazia. Essa é uma característica do desleal. O desleal só é fiel até onde o satisfaz. Não se pode confiar plenamente em alguém com essa característica.

        Abner veio até Davi com a promessa de entregar o reino de Israel a Davi, e fizeram ambos uma aliança naquele dia. (2 Sm. 3:21).

        Joabe, voltando de uma batalha e sabendo da aliança entre o Rei Davi e Abner, ficou furioso e tramou uma traição.

        Enviou mensageiros a Abner sem que Davi soubesse, pedindo para que ele voltasse para Hebrom (cidade de Davi, antes dele tomar Jerusalém), e quando este veio, Joabe o assassinou, agindo em vingança do sangue do seu irmão. (2 Sm. 3:22-27).

        Davi lamentou profundamente  a morte de Abner, pois a aliança feita entre eles seria de paz, e traria benefícios não somente para eles, mas para todo o reino.

        Joabe não foi leal com Davi, pois nesse momento ele pensou apenas em sua vingança pessoal, e não deu importância nem decisão do rei, nem ao beneficio que esta aliança traria para todo o reino.

        Na realidade, todo desleal não tem visão de reino, mas sim a sua própria visão.

        O desleal não consegue renunciar seus desejos para que o reino se manifeste. O reino de Deus é maior do que todos os nossos desejos e sonhos, e devemos aprender a lutar pelo reino de Deus, e como a palavra de Jesus diz:

“Mas, buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas as outras coisas vos serão acrescentadas”. (Mt. 6:33).

        Diante do reino, nós renunciamos.

        Por outro lado, o leal se anula pelo reino.

        Observe também que o desleal não se preocupa se o líder esta bem.

“E o rei deu ordem a Joabe, a Abisai e a Itai, dizendo: Tratai brandamente, por amor de mim, o mancebo Absalão. E todo o povo ouviu quando o rei deu ordem a todos os chefes acerca de Absalão”  (2 Sm. 18:5).

    

        Nesse outro momento, Absalão, filho de Davi, havia se levantando contra o pai para tomar seu reino, e mesmo em guerra, Davi é bem claro quanto as ordens dada a seus homens. Ele queria clemência para seu filho. Davi rei, também era Davi, pai.

        Em certo momento, Absalão, montado em um mulo, encontrou-se com os soldados de seu pai, e assustado acabou preso pela cabeça nos galhos de um carvalho.

        Um soldado de Joabe viu a cena e contou ao comandante de Davi, que o questionou por que não o havia matado, mas o soldado era leal ao rei, e sabia exatamente quais eram as ordens de Davi para com o seu filho.

        Nesse momento, Joabe não vê Davi como pai, mas somente como um rei. Não se importou com os sentimentos dele.

        Muitas pessoas agem da mesma forma dentro das igrejas. Vêem os pastores e líderes como pessoas que não tem sentimentos, que não precisam ser pais, esposos, esposas. Esperam tudo deles, mas não se dedicam para ajudá-los no ministério.

        Existem muitos medos no coração de um pastor: medo de errar; de tomar uma atitude errada; de agir fora daquilo que o Senhor esta mandando. Até quando ele ouve o direcionamento do Senhor, muitas vezes o medo aparece, pois toda mudança gera este sentimento.

 

Em 2 Sm. 18:14 Joabe desobedece a ordem do rei, e mata Absalão. Mais uma vez ele demonstra que não é leal, e que não se importa com as ordens do rei ou com o bem da nação.

        O desleal não se preocupa com o sentimento do líder, mas somente como os benefícios próprios.

        A palavra do Senhor nos ensina:

 

“Obedecei a vossos guias, sendo-lhes submissos; porque velam por vossas almas como quem há de prestar contas delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil” (Hb. 13:17).

 

        O pastor não é um super-homem, mas um homem que luta pela santidade e pelo avanço da igreja.

        A última característica do desleal, é que ele é fiel a apenas uma estrutura, e não a uma pessoa.

        Não existe lealdade na troca de interesses. É só observarmos a política e os partidos políticos.

        As alianças partidárias acontecem mesmo entre partidos de oposição, para que consigam alcançar o objetivo particular de cada um. Na verdade, as alianças são feitas entre as pessoas, mas a fidelidade esta no interesse. Quando o interesse for alcançado, ou mudar o objetivo, acabou a fidelidade.

        Em 1 Re. 1:7 novamente Joabe mostra sua deslealdade, se unindo agora com Adonias, outro filho de Davi que, aproveitando da velhice do pai, queria usurpar o trono, e com Abiatar, o sacerdote, que compartilhava da mesma traição.

        Porém, no versículo 8, vemos que vários outros homens continuavam sendo leais a Davi, e não apoiaram Adonias nem Joabe.

        Um reino não pode prevalecer se não houver lealdade entre seus muros.

        Um ministério não pode crescer se não houver lealdade.

        Conhecendo a história de Joabe, observamos que ele sempre esteve perto de Davi. Comparecia nas reuniões, estava até envolvido nas batalhas, pois era o comandante, mas sempre esteve tramando uma maneira de se aliar com aquele que oferecesse maiores benefícios para ele. Isso não é lealdade. Não é de pessoas assim que Deus precisa. Não é de pessoas assim que precisamos na igreja.

        O Senhor esta levantando uma igreja de dentro da própria igreja. Uma igreja santa, consagrada, que O ama verdadeiramente e que O serve.

        Precisamos aprender a sermos leais ao Senhor e aos líderes que Ele colocou em nossa vida.

        Sabe qual foi o final da história de Joabe?

        Davi, quando estava no final de sua vida, chama Salomão, seu filho e sucessor, e dá instruções a ele.

        Entre conselhos e ordens, ele cita Joabe, e diz para que Salomão tome cuidado, porque ele não é leal (1 Re. 2:1-6).

        Salomão manda matar Joabe, pois não pode ter em seu reino alguém que seja desleal, pois ele sabia o quanto seu pai, Davi, havia sofrido pela deslealdade dele.

        Este é o final de todo desleal. Não sobrevive. Morre espiritualmente (se é que algum dia esteve vivo), e sua história fica marcada por derrotas, desilusões e traições.

        Lealdade é uma questão de caráter.

        Filhos são leais. Membros, nem sempre.

        Que o Senhor nos transforme em filhos obedientes, e que nós possamos aprender a obedecer ao nosso Pai celestial, e aos líderes que o Senhor tem colocado em nossa vida.

        Seja leal. Deus está observando você.